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No destaque em amarelo a área real de expansão da cultura yoruba. Como se vê ela ocupa, historicamente, apenas cerca de 10% do território nigeriano que tem, como se sabe, diversas outras etnias.
Rasgando a ‘Saia-Justa’ – Post # 01
Creiam. Não é uma conversa boba, irrelevante, mesmo sendo mais uma vez surgida no Facebook (a gente quase não nota, mas os posts do facebook nem sempre são conversa banal de mesa de botequim virtual).
A moça que detona o post-matriz que inspira esta réplica tem o instigante pseudonimo de ‘Destemida Yara’. Penso que ela talvez seja uma jovem negra destas aí, encantadas com bobos sofismas clássicos de supremacia racial de uns sobre os outros, como este lançado por um Dr. negro chamado Juarez Tadeu de Paula cuja ficha corrida (excelente por sinal) pode ser conhecida logo abaixo:
Juarez Tadeu de Paula, sacerdote da tradição Iorubá. Ogam e jornalista, formado na PUC. Mestrado na Universidade de São Paulo.
No seu encantamento – aliás muito comum entre alguns negros finos e chics do Brasil – “Destemida Yara’ desfralda – de novo, ai meu Deus! – a surrada bandeira da ‘Supremacia Nagô”.
Ora, ora. Este é um mito clássico de nossa negritude mais fashion. Tema-tabu que só os mais malucos se arvoram mexer, uma verdadeira casa de marimbondos conceitual. Doido por estes assuntos que sou, quando li fui logo dizendo:
_ Tô dentro!
Não por maluquice, claro. Mais por achar que nesta praia tenho um tantinho de coisas a dizer. Sério.
E não é mesmo uma briga para se desprezar. O tema eu afirmo – e já repeti várias vezes – é decisivo para se compreender certos meandros escuros do Racismo à Brasileira.
Ele faz parte de nosso racismo mais íntimo e contraditório, aquele de nóis contra nóis mesmos, de negros contra negros – com os ‘pardos-mestiços’ todos no bolo, jogando contra – na maquiavélica armadilha que separando uns dos outros no exíguo espaço de nossa simbólica senzala, faz com que o ‘sinhô’ continue sempre mandando em paz.
Na Casa Grande como na vida, quem divide é quem impera.
Neste post podem caber então: Brancos racistas ou indiferentes; ‘mulatos’ e ‘pardos mestiços’ envergonhados de serem confundidos com ‘negões’ comuns e negros clássicos, meio aristocráticos querendo ocupar um degrauzinho superior (também acima dos ‘negões comuns’, claro) neste melê afrodescendente que é a nossa estratificação social tão detestada por certos malucos ‘noruegueses’ daqui e de lá, burgueses pequenos em suas manias de viver numa ‘área vip’ social.
(Estranho, mas ao que parece o problema é que, a vera mesmo, ninguém aqui quer ser negão, não é não?)
A forma deste post, feito após a leitura atenta de um único texto no blog do Dr. Juarez Tadeu é a de um debate normal (um pouco inflamado, como me apetece, é verdade).
Peço então, desde já perdão aos leitores pela ênfase e a franqueza ácida que, às vezes acho ser a única arma de persuasão válida. Uso desta ênfase sempre quando me vejo diante de ideias que considero imperdoavelmente nocivas, venenosas, como estas que vi no texto em questão.
Li outras coisas do Dr. Juarez para não correr o risco de ser leviano. Um destes textos (que vou linkar em algum momento aí em baixo) encontrei ideias que me pareceram bem mais lúcidas e melhor embasadas nos fatos, embora possa ter identificado nelas a mesma intenção de exagerar a importância dos yoruba na formação de nossa cultura.
Esta intenção nada furtiva, clara mesmo no pensamento geral do religioso Dr. Juarez, parece que o faz misturar, perigosamente a sua devoção religiosa com a história e a antropologia dos africanos no Brasil, aproximando-as do pensamento torto e arcaico de correntes muito atrasadas, calcadas num pensamento já superado desde o século 19 e que, na verdade são racistas numa dimensão tão sutil quanto venenosa.
É isto que me instiga a debater, contrapor com algumas poucas e boas entrelinhas de pesquisador marrento.
Portanto, vai aqui a ressalva: Nada há de pessoal nesta longa resenha. É só o calor da verve de um escriba afoito, velho e já impaciente, refletindo acerca de um texto que considerei equivocado, de um importante intelectual de nossa negritude, entre os poucos que temos.
Com vocês então a fala do Dr. Juarez revista e comentada.
“A maioria dos negros destinados ao Sul e ao Sudeste pertencia à etnia banto, majoritária no centro-sul da África. Para a região Nordeste predominou o tráfico de Iorubas, negros oriundos da Guiné e das proximidades da Nigéria (noroeste da África).”
Isto, rigorosamente não é verdade.
Os negros yorubas não são maioria em nenhum caso. Pela maioria de dados que pude observar, negros da África do Norte vindos como escravos para o Brasil, entre estes gente yoruba, foram predominantes apenas na cidade de Salvador e suas adjacências, junto com alguns negros de plagas vizinhas à costa da Nigéria atual (‘Ewe’ – ou jêjes’ – e Keto do Ghana e de parte do Benin, entre outros)
Contudo, como vários estudos atuais já apontam é claramente predominante sim a presença de negros bantu também no reconcavo baiano como vários autores, ainda na década de 1930 já assinalavam. Isto é uma evidencia que pode ser facilmente constatada quando se estuda a cultura popular deste Recôncavo, com amplos exemplos de traços bantu, principalmente aqueles ligados a cultura dos kimbundo e dos umbundo de Angola, ambas com uma cultura ancestral comum, originária de um povo chamado Bakongo, de passado civilizatório tão rico e importante quanto o dos povos da África do Norte.
(E isto não é supremacia coisíssima alguma. Isto foram as circunstâncias históricas que determinaram. Completamente inútil negar.)
Estudando o assunto para o meu livro (‘Do Samba ao Funk do Jornal”) encontrei várias e enfáticas referencias do então ‘folclorista’ Souza Carneiro, arguto e ignorado pesquisador baiano (pai de Edson Carneiro, este sim muito famoso) que no seu formidável – e hoje raro – livro ‘Mitos Africanos no Brasil’ já denunciava em 1937 a farsa da tal ‘supremacia nagô’, discorrendo sobre a intensa e ampla dispersão da cultura bantu no recôncavo de sua Bahia de Todos os Santos.
Basta citarmos as duas maiores e mais importantes manifestações culturais mundanas, ‘de rua’, da cidade de Salvador para se atestar isto: A Capoeira e o Samba de Roda
E Juarez segue:
“A maioria dos iorubás falam a língua iorubá (iorubá: èdèe Yorùbá ou èdè). Vivem em grande parte no sudoeste do país; também há comunidades de iorubás significativas no Benin, Togo, Serra Leoa, Cuba e Brasil.
Os iorubás são o principal grupo étnico nos estados de Ekiti, Kwara, Lagos, Ogun, Ongo, Osun, e Oyo. Um número considerável de iorubas vive na República do Benin, ainda podendo ser encontradas pequenas comunidades no campo, em Togo, Serra Leoa, Brasil e Cuba.”
Não conheço nenhuma evidência, nunca vi em nenhum mapa étnico dos muitos que já tive a oportunidade de estudar, nada sobre a existência de grupos yoruba fora do litoral da Nigéria e suas adjacências, durante o período colonial mais remoto.
Como as fronteiras coloniais não servem de parâmetro nestes casos, sabe-se que os yoruba ocupavam, além de um pequena parte do que é hoje a Nigéria, apenas uma parte menor ainda do que também é hoje a República do Benin (antigo reino do Dahomey) onde predominam, entre outros grupos, os ‘Ewe’ conhecidos por aqui como se sabe, como ‘Jêjes’ , uma pequena área de que é hoje a Ghana (área dos Keto) e o Togo modernos.
(Veja os mapas acima e abaixo)
Ocorre que, ao que se sabe, a cultura religiosa dos Ewe, que ocupavam como já disse o que é hoje o Ghana e parte do antigo Dahomey (Benin) é a matriz não do Candomblé, exatamente mas do Vodu haitiano e da religião aparentada a este conhecida como a ‘Casa das Minas’, do Maranhão, ambas um tanto diversas do Candomblé baiano, embora com algumas similaridades perfeitamente compreensíveis, tanto pela proximidade geográfica das duas culturas na África (há uma pequena parte do território yoruba nas fraldas do Benin) quanto pelas interfaces ocorridas entre estes grupos culturais já aqui no Brasil e nas Américas.
Na verdade e a rigor, é preciso conhecer mais profundamente a configuração destes diversos reinos da costa noroeste africana no passado (século 17 e 18, basicamente) para se entender toda esta história.
É preciso, sobretudo considerar também que o Candomblé não é uma religião ‘pura’, no sentido de ter estado ou estar imune às influencias do meio, neste caso no âmbito de sua invenção no Brasil do fim século 19, uma realidade bem diversa de seu ambiente original africano, com a franca exposição às inúmeras influencias ‘exóticas’, fruto de sua convivência com outras práticas religiosas de outras etnias de negros escravos e libertos, entre elas traços do islamismo dos ‘malês’ e até mesmo de um ou outro indesejável e estigmatizado traço do catolicismo português (ai, ai! As anáguas brancas e as ceroulas de babado dos santos deste Candomblé me fazem pensar tanto nisto!)

Mapa da costa noroeste da África atual com a parte aproximada de onde, provavelmente vieram escravos ‘sudaneses’ para o Brasil acentuada em amarelo. Assinalada com círculo vermelho a pequena área de ocorrência da chamada ‘cultura yorubá’ segundo o mapa que inseri mais acima
Não é lícito, portanto se afirmar que os yoruba eram o mais ‘avançados’ dos povos da região dividida com os Ewe, os Haussá, os Ashanti, os Ibo (que aliás são do ramo bantu) e tantos outros povos; nem mesmo é correto julgar que os povos da região fossem um saco de gatos cultural, com uma suposta ‘supremacia’ yorubana como Juarez sugere.
O que ocorria, claro é que a pequena área de ocorrência da cultura yoruba tinha na época fronteiras não muito claras, incompatíveis com a também suposta delimitação das fronteiras destes reinos aparentados ou vizinhos (Huassá, Ewe, Keto, Yoruba, Ashanti, Dahomey ou Benin, etc.), demarcadas como se sabe por cronistas e cartógrafos europeus.
Esta ‘proeminencia yoruba’ em região tão extensa da África como o Dr. Juarez Tadeu sugere é, pois, com toda certeza no mínimo exagerada – inverídica, diria eu sem medo de errar – uma mentira cabeluda, como se diz, quase sem nenhum fundamento senão a sua clara intenção de ‘forçar a barra’ e disseminar a mistificação da supremacia de um grupo étnico sobre os outros.
Vai Juarez!
“A maioria dos iorubás é cristã, com os ramos locais das igrejas Anglicana, Católica, Pentecostal, Metodista, e nativas de que são adeptos.
O islamismo inclui aproximadamente um quarto da população iorubá, com a tradicional religião iorubá respondendo pelo resto. Os iorubás têm uma história urbana que data de 500 d.C. As principais cidades iorubás são Lagos, Ibadan, Abeokuta, Akure, Ilorin, Ogbomoso, Ondo, Ota, Shagamu, Iseyin, Osogbo, Ilesha, Oyo e Ilé-Ifè.”
A afirmação é claramente um exagero muito mal fundamentado também. Ora, se a maioria dos yoruba é cristã (católica e evangélica) e o islamismo é adotado por ¼ da população, é preciso esclarecer (já que Juarez omite) não só que ‘religião yorubá’ é esta, como também qual é o percentual real e objetivo de adeptos que seguem este ‘yorubalismo’, que a julgar pelos dados parciais informados pelo próprio, deve ser um número ínfimo de nigerianos.
(Vale insistir: Afinal o que é que o Dr. Juarez chama de ‘cultura yorubá’?)
Seria uma corrente religiosa algo parecida com o nosso Candomblé? Mas o Candomblé, gente, não passava de uma seita religiosa, uma apenas entre as muitas que existiam naquela região africana da época colonial ou mesmo existe hoje no Brasil. Seria o mesmo que se falar de uma suposta supremacia de uma ‘cultura evangélica’, uma ‘cultura católica’, uma ‘cultura islamica’, ‘judaica’, sei lá mais qual entre tantas seitas e religiões de nosso vasto mundo, o que costuma ser, quase sempre despropósito antropológico sem tamanho)
A informação é, pois, toda ela um sofisma claro, mera propaganda enganosa.
Mas Juarez não se cala:
“A questão da procedência dos africanos para o Brasil tornou-se bastante complexa, principalmente no tocante aos povos e etnias que forneceram os maiores contingentes de escravos.
A complexidade decorre da mentalidade colonialista dos portugueses que, não considerando o negro um ser humano, pouca importância davam a assinalar de maneira precisa, nos seus registros e documentos, as diversas culturas, línguas e grupos étnicos dos africanos capturados.
Ao contrário, estendiam a povos radicalmente distintos um mesmo nome, ou generalizações completamente sem fundamento.
Atualmente a antropologia tem revisto muito do que se escreveu sobre as origens culturais da massa escrava, no começo deste século, restando ainda muitos pontos a esclarecer.”
Tudo com jeito de falsidade deliberada. Nada disto tem fundamento, de modo algum. Esta ‘indefinição’ da procedência dos escravos, embora predomine por ignorância, nos meios acadêmicos mais atrasados e no senso comum do Brasil – por conta, exatamente da disseminação destas mistificações – não é absolutamente um fato comprovável.
É perfeitamente possível hoje – e já o é há bastante tempo – identificar a origem dos escravos que vieram, não só para o Brasil como para todas as outras partes das Américas (nós mesmos publicamos há pouco tempo na internet um mapa de fonte idônea com dados cabais acerca disto, mapa este baseado obviamente em dados históricos válidos).
Por outro lado, também não é verdade que a mentalidade colonialista portuguesa – ou de qualquer outra metrópole escravista – tenha sido tão amadora, desleixada e irresponsável.
As atividades ligadas ao tráfico de escravos, bem como o seu translado e a definição das áreas e das ocupações laborais as quais os mesmos seriam destinados, se configuravam numa atividade econômica complexa, altamente planejada por todas as metrópoles europeias envolvidas, com leis e expedientes de reserva de mercado, inclusive.
Algumas guerras comerciais ou militares foram empreendidas com o propósito efetivo de regular as relações internacionais neste sentido, em momentos em que o choque entre estes interesses afetavam o equilíbrio de forças, a ordem econômica mundial.
Consideremos apenas como referencia que o sistema de trabalho escravo e o tráfico de mão de obra cativa era simplesmente a mais importante, organizada e bem sucedida atividade econômica da época.
Por esta óbvia razão, pelas circunstâncias estratégicas e logísticas desta ordem escravista, é que podemos com toda segurança afirmar que é plenamente possível, não só identificar de onde, quando e em que circunstâncias saíram todos os escravos da África, em todas as épocas do tráfico – mesmo em seu início no século 16 – como é possível também saber para onde, exatamente eles foram levados, em todas as épocas.
Os meios para se obter estas informações – embora rareiem no Brasil por razões sabidas que não cabe aqui avaliar – são vastos, tanto bibliográficos quanto por meio de registros iconográficos ou, até mesmo pelo cruzamento de dados historiográficos com relatos etimológicos, musicológicos, etc. extraídos da cultura oral destes escravos – e de nós, seus descendentes – cultura esta marcada fortemente por traços ancestrais presentes em nossa cultura ainda hoje, tanto lá na África quanto aqui na Diáspora americana.
Como exemplo, já tivemos a oportunidade de demonstrar em outros posts e matérias na internet que os holandeses, por exemplo, à época de seu domínio em Angola e, no Brasil no século 17, realizaram em pinturas veristas, registros etnológicos profusos, quase precisos e por isto mesmo, inestimáveis, da cultura e dos jeitos de ser dos escravos bantu que em esmagadora maioria viviam em Recife, Porto Calvo e adjacências, além de Paramaribo, no Suriname.
Em suma e infelizmente, há também aqui fortes indícios de que este tópico do texto do Dr. Juarez Tadeu, como vários outros autores nesta linha, parece ter a triste função de confundir e embaralhar de forma grosseira informações e fatos históricos perfeitamente estabelecidos que dão conta de que, NÃO foi predominante de modo algum, a vinda de escravos yoruba para o Brasil.
Em nenhuma época. Ponto.
Fala mais, Juarez:
“A tradição historiográfica reúne, a grosso modo, os negros em dois grandes grupos étnicos: os bantos (ou bantus), da África equatorial e tropical, da região do golfo da Guiné, Congo e Angola, planaltos da África oriental e costa sul-oriental; e os sudaneses, predominantes na África ocidental, Sudão egípcio e na costa setentrional do golfo da Guiné.
Não há nenhuma prova definitiva da predominância de um desses grupos na composição dos negros vindos para o Brasil, embora se afirme normalmente que a maioria era de bantos.
Entretanto, as tradições culturais de alguns grupos sudaneses, como os iorubas da Nigéria, são amplamente predominantes nas heranças africanas da cultura brasileira.”
Como já dissemos enfaticamente acima, por razões históricas sobejamente conhecidas e comprovadas HÁ SIM plenas condições documentais para se afirmar, com absoluta certeza que escravos bantu da África astral, notadamente de Angola, vieram em esmagadora maioria para o Brasil.
Contudo, a afirmação de que as tradições culturais de alguns grupos sudaneses predominaram é totalmente incabível, arbitrária e absurda. Aliás a expressão ‘sudanesa’ – deve-se frisar fortemente – é uma classificação muito imprecisa e arcaica, superada, pelo menos desde a década de 1940.
O mesmo já se pode dizer hoje em dia da própria expressão Bantu, que se refere na verdade a uma variedade muito extensa e diversa de grupos étnicos, unidos apenas por seus traços linguísticos comuns.
Esta improvável ‘predominancia’ yoruba é arbitrária. Primeiro porque não me parece que haja cultura yorubana fora do âmbito restrito da religião, já que, como já dissemos, Cultura é uma instância sociológica infinitamente mais ampla do que isto. Como é fácil se observar, numa mesma cultura podem conviver – e quase sempre convivem – inúmeras seitas e religiões.
Segundo porque esta suposta ‘predominancia’ ou ‘supremacia’ nagô se dá talvez apenas no campo das aparências, referendadas pela eleição do Candomblé como religião oficial do negro pelas elites intelectuais – brancas e negras – do Brasil.
Entre outros motivos, este mito da aparente e ilusória ‘predominancia Yoruba’ talvez tenha se dado por ter sido o Candomblé estruturado como a única instância mítico-religiosa sistematizada (do ponto de vista eurocêntrico, diga-se) e acessível à classe média negra – e a certos setores da classe média branca também – entre as quais instâncias acadêmicas e demais estruturas de poder social com poder de mando real.
O Candomblé é, pois (pelo menos para mim), uma religião lícita sim como tantas outras, mas do ponto de vista ideológico, talvez seja a que mais se projetou por ter sido aquela que mais se adequou, a que melhor serviu para atender – submetida, dócil, assimilada – aos interesses das camadas hegemônicas da sociedade brasileira, nesta sua tão original estratificação baseada na desigualdade com o ônus reservado sempre para uma maioria estigmatizada, posta ‘em seu lugar’ por categorizações fenotípicas ou…epidérmicas.
Candomblé seria, pois, uma religião negra de grande pujança em seu simbolismo estético teatral e grande apelo artístico (obviamente inventado no processo), porém, infelizmente inserida politicamente (no contexto de uma população negra assolada por tanta exclusão social e racismo) como uma religião domada, ‘chapa branca’, no ensejo de servir como base ideológica para a manutenção do status quo, uma farsa providencial para as tensas relações sócio raciais no Brasil.
Talvez tenha chegado a hora de encarar estas pertinentes suposições de frente.
(Se quiser respirar, respire aqui que eu sigo logo mais à frente. Pegue o link)
Spírito Santo
Julho 2011
(Nota: Estar numa “saia justa’ diz-se no Rio de Janeiro quando se está numa situação inusitadamente constrangedora, como esta de ter que criticar assim, em público um quase ‘membro da família’)
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